Parte 136
— Onde está o gato?
— E eu sei?
— Não sabe?
— Por que pergunta pra mim? Vai procurar
— Bem, deixa ele. Em algum lugar deve estar.
— Sem dúvida. Talvez no meu armário, deixando pelo nas roupas.
— Problema seu, que não fecha a porta do armário.
— Meu, não. Hoje foi você quem guardou as roupas passadas.
— Tá. O gato está lá por culpa minha.
— Eu nem sei se o gato está lá. Só estou supondo.
— Supondo pra me ferrar. Vai ver que ele nem está no armário.
— Dá uma olhada.
— Por que eu?
— Foi você quem perguntou onde ele está.
— Não tô com vontade de me levantar daqui do sofá.
— Nem eu. Deixa o gato.
— E se ele estiver nas suas roupas?
— Paciência. Depois eu escovo.
— Quanto mais tempo ele ficar lá, mais trabalho você vai ter pra escovar as roupas.
— Mas a gente nem sabe se ele tá lá, oras.
— Mas onde tá esse gato, então?
— Vai saber. Ele gosta de procurar uns cantos esquisitos.
— Vou chamar ele.
— Chama mesmo, com aquela sua voz cheia de mi-mi-mi.
— Eu? Você é que fala com ele como quem fala com criancinha recém-nascida.
— Olha ele ali no canto! Vai subir na mesa, que sacana.
— É mesmo! Vem aqui, queridinho, vem!
— Queridinho? Eu devia te filmar falando essas fofices.
— Só pra me ridicularizar? Qual é o seu gosto em fazer isso?
— Eu só ia postar no face.
— Não se atreva.
— Brincadeira, eu não faria isso, mas tenho vontade.
— Vem cá, meu lindo!
— Esse gato não está nem aí pra você. Fica na dele, só te filmando.
— Chama você, pra ver se ele vem.
— Se ele vier você vai morrer de ciúmes.
— Vou mesmo.
— Vem cá, nenê!
— Não veio. Será que ele tava no armário?
— Nenê, você tava no armário?
— Acha mesmo que ele vai responder?
— Não chateia. Eu sei que nós somos ridículos.
— Todo mundo que fala com gato é um pouco ridículo.
— Nenenzinho, você acha os humanos ridículos?
Luiz A G Cancello
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