Uma apreciação apaixonada de Luiz A G Cancello
Logo de cara digo que terminei o livro com se tivesse acabado de ler uma das coisas mais bonitas da vida. Não digo forte, vibrante, intrincada ou enigmática. Digo “bonita” num sentido de encanto, de delicadeza com o tema, de cuidado com cada palavra.
Os personagens são poucos, o Pai e Filho, este à procura de um quê espiritual na Himalaia, aquele em casa, recebendo notícias esparsas. A Namorada do Filho, escritora de roteiros e sem residência definida, destinada a ir morar com o pai de seu amado, por circunstâncias diversas. Uma velha amiga do Pai está presente, a Mãe falecida com quem o marido dialoga, e o Empresário de caráter duvidoso, disposto a bancar as pretensões artísticas da moça. Há o Narrador, que se imiscui na trama, preguntando-se por que diabos foi escrever um livro em prosa poética, coisa de jovens, logo agora, em plena maturidade.
A presença da jovem em sua casa perturba o Pai, provavelmente um sessentão ainda com bala na agulha, e aí se forma o centro da história. Mas não se espere espetaculares cenas eróticas; tudo é conduzido com sutileza pelo Narrador, que aparece de tempos em tempos, acompanhando o ritmo dos acontecimentos.
O livro, como um pêndulo, oscila entre o mundo dos jovens e o dos velhos, traçando os contrastes e os fascínios, entre o deserto ali na esquina de Israel e o Himalaia por onde peregrina o jovem, entre o Pai, um pacato contador e as procuras artísticas e espirituais da outra geração.
A linguagem poética, em prosa, é o fio condutor da atenção de quem lê. Cada metáfora abre uma miríade de significados e possibilidades, como tem de ser, mas algo permanece sólido, impedindo o voo desvairado: solenes e eternos, permanecem as areias quentes, as montanhas geladas e o mesmo mar.