Luiz A G Cancello
“O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana”, escrito por Maryse Condé, narra a história de gêmeos unidos por uma força inexplicável e um amor desmesurado. A atração de um pelo outro é o fio condutor da narrativa.
Nascidos em Dos d’Âne, um vilarejo pobre em Guadalupe, eles têm uma vida comum e previsível nos primeiros anos de vida, desfrutando o que um país tropical pode oferecer – o mar, a música, o afeto entre as pessoas de uma pequena comunidade caribenha.
As artes do destino levam os irmãos a outras terras. Na França suas vidas começam a divergir. Enquanto Ivana se adequa à sociedade europeia, servindo como enfermeira e policial, Ivan toma outro rumo. Revoltado contra a falta de oportunidades e o racismo, tenta em vão compreender o mundo injusto em que passou a viver. Seu inconformismo vai levá-lo a procurar grupos radicais.
A atração entre os irmãos está presente a cada etapa de suas escolhas, embora ambos tentem combatê-la. Mesmo quando seus rumos se diferenciam, a obsessão de um pelo outro não cessa, torna-se até mais intensa.
Maryse Condé usa esses elementos para fazer um profundo tratado sobre amor e sexualidade e sobre as psicologias do racismo e da radicalização, mas não só. O livro envereda pela política colonialista da Europa e outros temas correlatos, contando uma história apaixonante. A trama é perfeita e leva a um final que, depois de lido, julgamos inevitável, mas nunca previsível.
Muitas vezes meus alunos em pediam títulos de livros de Psicologia sobre o Amor. Eu dizia a eles que lessem Literatura. Se insistissem, recomendava a saga de Tristão e Isolda e “Do amor e outros demônios”, de Gabriel Garcia Márquez. Hoje ampliaria a lista com “Tudo é Rio”, de Carla Madeira, e este “O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana”, de Maryse Condé.