Interpretação e Violência

 Artigo publicado na Revista “Psicoterapia Breve” — Edição e Propriedade da Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Breves, Lisboa, volume VII, novembro de 2002, pp.5-15.
 
            Luiz A. G. Cancello
 
 
            O texto a seguir é destinado a leigos apreciadores de Psicologia e a profissionais da psicoterapia. Serve como um duplo alerta, dependendo de sua posição de interpretadores ou interpretados. Psicoterapeutas atualizados estarão por certo livres dos pecados aqui descritos, seja qual for sua base teórica.
 
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            Vou relatar alguns episódios banais. Todos os leitores, principalmente se forem psicólogos, cônjuges ou amigos de psicólogo(a)s vivem situações desse mesmo teor a cada semana.
 
            Estive com uma dor nas costas, na altura da coluna lombar. Tenho esse problema há muito tempo, desde quando lutei judô, quando jovem. Uma distensão mal curada na musculatura paravertebral, dizem os amigos ortopedistas. De vez em quando, o músculo se esgarça, e lá se vai uma semana até a dor passar por completo.
            Durante esse período de “travamento da coluna” telefonei para um conhecido, por motivos outros. No meio da conversa, contei a ele sobre meu aborrecimento por estar tomando cuidado com cada movimento. Veio imediatamente a pergunta:
            — Você anda tenso, né?
            De maneiras diversas, em contatos pessoais, outras pessoas também insinuaram a ligação entre o músculo lesado e possíveis motivos psicológicos.
 
            Conversávamos, duas amigas e eu, em um bar noturno. As mulheres são separadas dos maridos. Uma de minhas interlocutoras tem uma filha que insiste em namorar um sujeito bastante estúpido. Tem medo que ele agrida a moça. A outra participante da conversa interveio, com um “sorriso de compreensão” característico:
            — Acho que é a falta do pai, ela precisa de um homem metido a forte.
 
            O terceiro fato, com ligeiras modificações, ocorreu entre uma psicóloga e sua cliente, em atendimento numa Clínica Popular. Essa entidade atende pessoas carentes de recursos para arcar com as despesas decorrentes de uma psicoterapia em consultório particular. Tomo o episódio como um caso típico, que certamente já ocorreu outras vezes, com outros protagonistas.
            A moça que estava sendo atendida queixava-se da ausência do marido em casa, nos finais de semana. Ele tinha uma outra mulher, com quem passava boa parte do sábado e do domingo. A paciente era uma pessoa de pouca instrução, estando na época desempregada e com dois filhos de um primeiro casamento para criar. Dizia, na sessão, que estava sendo “traída” pelo marido. Mas esclarecia que esse sentimento não se devia tanto à existência de uma outra mulher, “pois isso é até natural”, mas pela pouca participação do seu companheiro na vida doméstica.
            A psicóloga, na melhor das intenções, perguntou se a moça “não estava traindo a si mesma”. A formulação encantou a paciente, que provavelmente nunca tinha usado o verbo “trair” em voz reflexiva. Disse que “nunca havia pensado nisso”. A partir deste momento foi condenada: nunca mais poderá se livrar da maldição de ter, em algum lugar de seu “interior”, uma instância — uma força — que trai o seu próprio ser, as suas próprias palavras. Passou a “ter” um inconsciente.
 
            Outro exemplo ilustra o bombardeamento de psicologia televisiva a que está sujeito o cidadão comum. Um cliente especialmente inteligente, em sessão numa Clínica Psicológica, manifestou à psicóloga que o atendia o desejo de “fazer um teste de Q.I., para saber se estou aproveitando todo o meu potencial”. Esse mesmo paciente perguntou se a profissional fazia hipnose, “para falar diretamente do inconsciente, porque assim as coisas seriam mais verdadeiras”. Esse homem se coloca, através de suas palavras, como “totalmente alheio a si mesmo”, se é que isto faz algum sentido. Precisa da suposta autoridade do profissional para saber a “verdade” acerca de si próprio. Foi convencido de que há, na sociedade, um especialista em conhecer o “interior” das pessoas, como um médico endoscopista conhece o interior de um estômago. Ciência e misticismo mal formulados fornecem, sutilmente, o solo onde testes de Q.I. e hipnose, um com seu aparente rigor e outra com sua duvidosa eficácia, podem aparecer como milagrosos.
 
            Para muitas pessoas tudo precisa estar explicado: a minha dor nas costas, o namoro da filha da amiga, o casamento da cliente, os eventuais atos impulsivos, o sobrinho adepto da maconha, a falta de educação do vizinho. O problema não é a busca de uma dada compreensão, pois isto é humano, mas o imediatismo e a leviandade — estas duas dimensões irmãs — emergentes a cada busca de “causas” para doenças e comportamentos, para fatos banais como os citados acima.
            O assunto apresenta muitas facetas. Perguntas cruciais e mais abrangentes vão se formando: um indivíduo tem o direito de arvorar-se. sem mais aquela, conhecedor dos “motivos mais profundos” dos atos de outro? Foi autorizado para isso? Por quem? Pediu permissão, ou ao menos cotejou suas impressões com as do interessado? E se o fez e foi desmentido, convenceu-se de seu engano? Existe uma teoria consistente para tal pretensão interpretativa?
            Talvez seja interessante, aqui, mencionar algumas questões fundamentais:
 
“(…) nossas práticas não habitam ou não se localizam em espaços de significado e negociação e entre indivíduos homogêneos, amorfo e assepticamente funcionais. Elas estão sempre localizadas em estabelecimentos e procedimentos particulares. Se aceitamos que a linguagem está organizada em regimes de significação, que, por meio desses regimes, ela está distribuída em espaços, tempos, zonas, extratos de forças, então a construção da subjetividade adquire outra aparência. Perguntas tais como, “quem fala?”, “segundo que critérios de verdade?”, “a partir de quais lugares e espaços?”, “em que relações?”, “agindo de que maneira?”, “sobre que formas de persuasão, sanção ou mentira e crueldade?”, passam ao primeiro plano e delimitam a atividade do pensamento social.[1]
 
            Psicoterapeutas ou não, através de um suposto conhecimento de uma Psicologia banalizada, de um código para decifrar as “profundezas” do ser humano, todos — notadamente os membros de uma classe média com pretensões intelectuais — outorgam-se a capacidade e a prerrogativa de penetrar nas mentes alheias, esquadrinhando seus motivos mais escondidos. Estabelece-se, assim, um cruel regime de significação, configurando lugares, espaços e relações. Não raro, as brilhantes explicações aí engendradas são acompanhadas do tal “sorriso de compreensão”. Se há duas pessoas interpretando uma terceira, o esgar da boca transforma-se em “sorriso de cumplicidade”. Esta é a forma mais perversa de expressar-se, pois quem emitiu a comunicação espera do outro uma concordância silenciosa, referendando não apenas a interpretação, mas a própria chave interpretativa.
            A questão das bases onde se assentam as asserções ingênuas sobre o comportamento humano — a chave interpretativa — tem sua origem numa topologia da mente popularizada através da banalização da psicanálise. Os motivos de nossos atos estão “no fundo” da mente, num lugar misterioso chamado de “inconsciente”.
            O inconsciente é o nível mais profundo, o lugar da verdade e o pior do nós mesmos. Mas quem inventou isso? De onde veio a ligação necessária entre pior e verdadeiro? É raro estarmos atentos ao pessimismo e à pobreza da concepção de natureza humana subjacente a tal fórmula. Usa-se esta base para “interpretar” os outros com uma tremenda desfaçatez, sem a menor clareza da redução aí implicada. Ninguém pergunta ao outro se concorda com a “essência” a ele imputada. Ainda por cima, segundo essa pseudoteoria, o inconsciente só pode ser traduzido por uma segunda pessoa, colocando o interpretado à mercê de outrem, conferindo-lhe um poder abusivo. Pois falamos sobre o inconsciente dos outros, jamais sobre o nosso, pois neste caso ele se tornará… consciente!
 
            Há uma compulsão, possivelmente derivada do sucesso das explicações calcadas nas ciências físicas e em suas espetaculares realizações tecnológicas, de se procurar uma e uma só causa simples para a complexidade do real. O trauma funcionaria como um Big Bang psíquico, concentrando em um ponto a origem da configuração específica do universo adulto. Fica assim implícita uma certeza: é possível compreender, imediatamente, o mundo e a vida do outro. Para tanto basta estar de posse da teoria correta.
Uma “ansiedade explicativa” foi criada pelo êxito do mundo da técnica. É muito penoso suportar a idéia de eventos não redutíveis (imediatamente!) a causas conhecidas. Nada garante, porém, a aplicabilidade do mesmo raciocínio aos fenômenos humanos. É bastante ingênuo conceber a complexidade do comportamento como resultante de um ou dois acontecimentos fundamentais. Além disso, seguindo-se o mesmo modelo, o conhecimento da origem causal deve levar a um controle sobre o fenômeno. Este encadeamento de idéias fica mais claro ao tentarmos distinguir suas bases.
 
            Talvez a lenda mais consistente do século XX sobre a psique humana seja a teoria da repressão, origem de todas as considerações de haver algo “no fundo” ou “por trás” dos comportamentos observáveis. Esse ponto de vista foi resumido por Steele. Diz a teoria
 
“que nós esquecemos eventos porque eles são horríveis de serem contemplados; que nós não podemos nos lembrar desses episódios esquecidos por nenhum processo normal de rememoração, mas podemos seguramente retomá-los através de técnicas especiais; que esses fatos esquecidos, banidos da consciência, esforçam-se por entrar no consciente sob formas disfarçadas; que eventos esquecidos têm o poder de causar, em nossas vidas, problemas aparentemente não relacionados com eles, que podem ser curados ‘escavando-se’ e revivendo-se aquelas lembranças reprimidas.[2]
 
Ou seja, os detentores de técnicas adequadas têm o poder de controlar o processo, revertendo-o. E “onde” estão aquelas recordações reprimidas? No inconsciente, na vida intra-uterina, no lado esquerdo ou direito do cérebro, nas vidas passadas, ou em outros planetas, se eram os deuses astronautas? O caminho do bem-estar psicológico certamente não passa por aí. Há muitas escolas de psicoterapia partindo de conceitos opostos a estes, e com certeza a moderna psicanálise não se apóia em pilares tão inconsistentes.
            Os episódios descritos no começo do texto são filhotes desta concepção da vida. Nada é tal como aparece, há sempre algo “por trás” ou “no fundo”. Isto equivale a considerar os fatos óbvios como “outra coisa”, mais profunda, mais terrível, acessível apenas aos eleitos, detentores de técnicas de escavação mental, pretensos arqueólogos do cotidiano. Os psicólogos estão familiarizados com a queixa inicial de grande número de clientes: “Doutor, eu devo ter algum trauma de infância”. Já chegam contaminados com o vírus da moda.
            O famoso “trauma” é sempre algo “reprimido”. Falando sobre a sexualidade, Foucault opõe-se ao que chama de “hipótese repressiva”, de um modo que podemos generalizar seus argumentos para o tipo de pseudo-interpretação de que estamos tratando:
 
“As dúvidas que gostaria de opor à hipótese repressiva têm por objetivo muito menos mostrar que essa hipótese é falsa do que colocá-la numa economia geral dos discursos sobre o sexo no seio das sociedades modernas a partir do século XVII. Por que se falou da sexualidade, e o que se disse? Quais os efeitos de poder induzido pelo que se dizia? Quais as relações entre esses discursos, esses efeitos de poder e os prazeres nos quais investiam? Que saber se formava a partir daí? Em suma, trata-se de determinar, em seu funcionamento e suas razões de ser, o regime de poder-saber-prazer que sustenta, entre nós, o discurso sobre a sexualidade humana. Daí o fato de que o ponto essencial (pelo menos, em primeira instância) não é tanto saber o que dizer ao sexo, sim ou não, se formular-lhe interdições ou permissões, afirmar sua importância ou negar seus efeitos, se policiar ou não as palavras empregadas para designá-lo; mas levar em consideração o fato de se falar de sexo, quem fala, os lugares do ponto de vista de que se fala, as instituições que incitam a fazê-lo, que armazenam e difundem o que dele se diz, em suma, o “fato discursivo” global, a “colocação do sexo em discurso”. Daí decorre também o fato de que o ponto importante será saber sobre que  formas, através de que canais, e fluindo através de que discursos o poder consegue chegar às mais tênues e mais individuais das condutas.[3](grifos nossos).
 
            E disso tratamos aqui, das “mais tênues e individuais das condutas” usando e abusando de um discurso sobre os motivos “profundos” do outro. Tentaremos circunscrever algumas características e perigos desse tipo de interpretação.
 
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Vamos nos deter, a título de ilustração, em um exemplo de como o comportamento pode ser explicado de maneira bem diversa daquela adotada pelos interpretadores já mencionados. Em seguida faremos outras considerações sobre as conseqüências possíveis da visão de mundo que criticamos neste artigo.
Pinker, exemplificando uma alternativa para o conhecido modo de se tratar o enjôo da gravidez como possível “rejeição do feto”, esclarece:
 
“Um exemplo interessante é a nova teoria acerca do enjôo da gravidez (tradicionalmente denominado “enjôo matinal”), da bióloga Margie Profet. Muitas mulheres grávidas sentem náuseas e evitam certos alimentos. Embora em geral a explicação muito batida seja de que o enjôo é efeito colateral de hormônios, não há razão pela qual os hormônios devam induzir náuseas e aversão a certos alimentos e não, digamos, hiperatividade, agressividade ou lascívia. A explicação freudiana é igualmente insatisfatória: o enjôo da gravidez representa a aversão da esposa ao marido e o desejo inconsciente de abortar oralmente o feto.[4]
 
Levantando a hipótese de que o enjôo protege a mulher da ingestão de toxinas, Pinker mostra uma síntese de diversos resultados de pesquisas, levantadas por Profet, chegando a conclusões esclarecedoras:
 
“Ela documentou, meticulosamente, que (1) toxinas vegetais em doses toleráveis para os adultos podem provocar defeitos congênitos e induzir ao aborto quando ingeridas por mulheres grávidas; (2) o enjôo da gravidez começa na etapa em que os sistemas de órgãos do embrião estão se estabelecendo e o embrião se encontra mais do que nunca vulnerável a teratógenos (substâncias químicas indutoras de defeito congênito), mas está crescendo lentamente e tem necessidades reduzidas de nutrientes; (3) o enjôo da gravidez diminui no estágio em que os sistemas de órgãos do embrião estão quase completos e a necessidade maior do embrião é de nutrientes que lhe permitam crescer; (4) as mulheres com enjôo de gravidez evitam seletivamente alimentos amargos, picantes, muito condimentados e os que elas nunca provaram, sendo todos esses, de fato, os que mais provavelmente contêm toxinas; (5) o olfato das mulheres torna-se hipersensível durante o período do enjôo da gravidez e menos sensível que o normal dali por diante; (6) os povos coletores de alimentos (inclusive, presumivelmente, nossos ancestrais) correm um risco ainda maior de ingerir toxinas vegetais, pois comem plantas silvestres e não vegetais cultivados segundo a palatabilidade; ( 7 ) o enjôo da gravidez é universal nas culturas humanas; (8 ) as mulheres com os enjôos de gravidez mais intensos têm a menor probabilidade de abortar; (9) as mulheres com os enjôos mais fortes na gravidez têm a menor probabilidade de dar à luz bebês com defeitos. É impressionante a adequação do modo como um sistema de produção de bebês em um ecossistema natural deveria funcionar ao modo como os sentimentos das mulheres modernas de fato funcionam; isso dá um certo grau de confiança na exatidão da hipótese de Profet.[5]
 
            É de se notar a coerência e a elegância da explicação alternativa à da Psicologia do inconsciente. A formulação está colocada aqui apenas para mostrar outras possibilidades de se abordarem questões tradicionalmente afeitas às teorias psicanalíticas apressadas. Isto não implica na adesão do autor à linha explicativa seguida por Pinker.
 
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            Em outra vertente de considerações, as pesquisas de Elizabeth Loftus chamam a atenção para alguns absurdos praticados em nome da “teoria do trauma”. Em um artigo, conta o seguinte caso:
 
“No verão de 1993, uma mulher (chamada “Willa”) teve um sério problema. Sua irmã mais velha, uma artista batalhadora, teve um sonho que contou à terapeuta. O sonho foi interpretado como evidência de uma história de abuso sexual. No final, a irmã confrontou os pais com uma sessão gravada no consultório da terapeuta. Os pais ficaram mortificados e a família foi separada irreparavelmente.[6]
 
Tentando saber mais sobre o acontecido, Willa contratou Ruth, uma investigadora particular, que se fez passar por cliente da ex-terapeuta de sua irmã. Esta era uma M.A, supervisionada por uma Ph.D. Duas sessões foram gravadas secretamente.
 
“Na primeira sessão, Ruth disse à terapeuta que havia sido atropelada em um acidente de carro alguns meses atrás e estava tendo problemas em superar isso. Ruth disse que ficava sentada chorando por semanas por nenhuma razão aparente. A terapeuta parecia totalmente desinteressado em qualquer história relacionada ao acidente, mas queria falar sobre a infância de Ruth. Enquanto discutia sua infância, Ruth relatou, de forma espontânea, um sonho recorrente que havia tido quando pequena, e disse que o sonho agora retornara. No sonho ela tem 4 ou 5 anos e tem um enorme touro branco atrás dela, que a pega e a atinge com os chifres na coxa, deixando-a coberta de sangue.
A terapeuta declarou que o stress e tristeza que Ruth estava atualmente experimentando estavam ligados a sua infância, pois ela teve o mesmo sonho quando criança. Ela declarou que os ‘terrores noturnos’ (como os chamou) eram provas que Ruth estava sofrendo de distúrbio de stress pós-traumático (PTSD). Elas usariam o recurso de imaginação dirigida para descobrir a fonte de seu trauma da infância. Antes de realmente usar esse método, a terapeuta informou sua paciente que ela, a terapeuta, era uma sobrevivente de incesto. ‘Eu fui incestada pelo meu avô.’
Durante a imaginação dirigida, foi pedido a Ruth para imaginar-se como uma criança pequena. Ela então falou sobre o trauma do divórcio de seus pais e sobre o casamento de seu pai com uma mulher mais nova, que se parecia com ela. A terapeuta queria saber se o pai de Ruth havia tido romances, e disse à paciente que o seu pai (da terapeuta) havia tido, e que isso era uma coisa ‘geracional’ que vinha dos tempos de seus avós. A terapeuta conduziu Ruth através de fantasias manipulativas/sugestivas/confusas, envolvendo um homem sujeitando uma criança em algum lugar de um quarto. A terapeuta declarou que Ruth estava sofrendo de uma “conseqüência sofrida” (‘major grief issue’) e disse a ela que era de cunho sexual. ‘Eu não acho que, com as imagens obtidas e com o seu casamento com alguém que parece você, que isso possa ser outra coisa.’[7]
 
Em seguida inicia-se o relato da segunda sessão da pseudopaciente com o terapeuta da irmã de Willa:
 
“Pseudopaciente: Você acha que posso ser uma vítima de abuso sexual?
Terapeuta: Um-huh. É bem possível. É como eu colocaria. Sabe, você não tem dados reais e definitivos que indiquem isso, mas, hum, a primeira coisa que me fez pensar nisso foi o sangue em suas coxas. Você sabe, eu só me pergunto como aquilo viria da realidade de uma criança. E, hum, o fato que na fantasia a criança levou-a, ou mostrou a você o quarto, e seu pai sujeitando-a ali… seria realmente difícil para mim pensar de outra maneira. Alguma coisa deveria surgir que provasse realmente que não foi abuso sexual.
Ruth disse que não tinha nenhuma memória de tal abuso, mas isto não dissuadiu a terapeuta em nenhum instante.[8]
 
            Nenhum psicoterapeuta “sério” procederia dessa maneira, dirão os leitores. Disso todos sabemos. Mas continua sendo espantosa a quantidade de pessoas, profissionais ou não, pautando-se pela crença nos “traumas de infância” como determinantes das condutas do adulto. A persistência dessa convicção tem raízes históricas, como será visto em breve, mas deve-se também a um grande comodismo intelectual por parte de seus adeptos.
            As pesquisas de Elizabeth Loftus tomaram corpo quando um número significativo de “sobreviventes do incesto” começou a ir aos tribunais em busca de indenizações milionárias para um suposto mal sofrido em tempos remotos. Depois de o dinheiro entrar em cena o assunto tornou-se crucial; um poder maior que o dos interpretadores de plantão começou a se impor. Surgiu a necessidade de se investigar o “fato discursivo global”, citado por Foucault. Começou-se, então, a investigar a duvidosa realidade de tantos episódios incestuosos. Antes disso, os acontecimentos restritos aos consultórios pouco ou nada importavam aos investigadores com maior prestígio e possibilidades de obtenção de recursos financeiros para pesquisas.
            Em outro momento do mesmo artigo, Loftus confronta a utilização atual da teoria do trauma com a antiga prática de caça às bruxas:
 
“Nós vivemos em uma época estranha e precária, que parece semelhante à época do fervor da histeria e superstição dos julgamentos das bruxas nos séculos XVI e XVII. Homens e mulheres estão sendo acusados, julgados e condenados sem nenhuma prova ou evidência de culpa, a não ser as palavras do acusador. Mesmo quando as acusações envolvem numerosos acusados, que provocaram sérios danos durante muitos anos, até mesmo décadas, as palavras do acusador são suficientes para convencer juizes e jurados. Indivíduos estão sendo encarcerados por evidências fornecidas por memórias que voltam em sonhos e flashbacks – memórias que não existiam até a pessoa, em processo terapêutico, ser perguntada diretamente: ‘você já foi sexualmente abusada quando criança?’. E então começa o processo de escavação das memórias “reprimidas” através das técnicas terapêuticas invasivas, tais como regressão, visualização direcionada, transe, trabalho com sonhos, trabalho corporal e hipnose.[9]
 
            Acrescentem-se outras informações para reforçar a analogia: sabe-se de centenas de mulheres declarando terem sido violentadas pelo demônio, em aldeias européias medievais. A crença não se restringe aos especialistas, espalha-se pela sociedade e, literalmente, passa a fazer parte do real. Estamos observando coisa semelhante no final do século XX.
            Os trabalhos de Elizabeth Loftus chegaram a resultados espantosos. Apenas 25% das memórias de abuso sexual por ela investigadas mostraram-se verdadeiras. Outras 50% eram recordações bastante contaminadas com fantasias, e 25% revelaram-se inteiramente falsas.
 
Nunca é demais insistir: as novas abordagens psicanalíticas não fazem, hoje, uso tão bisonho e primário das idéias de inconsciente e trauma. Veja-se a este respeito, por exemplo, os interessantes trabalhos de Guirado[10] e Rolnik[11], para citar duas psicanalistas brasileiras. Importa-nos aqui o modo como tais conceitos foram popularizados e usados indevidamente por leigos e por uma significativa parte de profissionais desinformados — o tal caminho por onde o poder chega às condutas mais comuns.
 
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Vamos passar a outro ponto. Comecemos com outra longa citação, dando agora voz a um famoso psicoterapeuta existencial. Ele tem uma interessante visão histórica sobre o surgimento do conceito de inconsciente. Esta abordagem é importantíssima, pois, para os adeptos da teoria do trauma, tudo se passa como se as bases onde suas idéias se apóiam — um inconsciente topológico, quase um lugar físico, depositário de traumas e/ou repressões —  sempre tivessem existido:
 
“Já se disse que a descoberta do inconsciente, no sentido dum antiego, não poderia ter acontecido mais cedo. Para descobri-lo, no entanto, não havia necessidade de instrumentos “modernos” especiais. O que se descobriu é simples e está ao alcance da mão, razão por que não seria possível passar despercebido ao senso comum de todos os séculos antes de Freud. Por isso, é importante notar também que, quando Breuer e Freud descobriram o inconsciente, muitos contemporâneos chegaram a fazer a mesma descoberta. Registramos um grande número de publicações sobre o inconsciente, o antiego, nos anos de Breuer e Freud, e, pouco antes daquele tempo, um despertar geral de idéias semelhantes. (…)
O que deu ensejo a essa idéia geral? O que ocasionou a proliferação de publicações? A resposta é uma só: O inconsciente tinha-se formado. O que é que se tinha formado exatamente? Um antiego; não será demasiado acentuar, novamente, esse aspecto do inconsciente. (…)
Apresenta-se agora, espontaneamente, a pergunta sobre o que causou o surgimento do inconsciente. A causa foi uma mudança social (…) À medida em que as diferenças sociais principiavam a entrar em descrédito, a perder sua significação oficial, e todos começavam a ser considerados iguais entre si, os indivíduos iam sendo também obrigados a alojarem no seu íntimo, como inimiga, a desigualdade que continuava a existir. Foi então que surgiu o inconsciente, esse antiego, cujas proporções se tornaram tão grandes no decorrer do século XIX, devido à hipocrisia do padrão de vida vitoriano, que se tornou notório, ocasionando, assim, sua múltipla descoberta.[12]
 
            O acordo sobre as causas históricas do surgimento do inconsciente está longe de ser pacífico. Hobsbawn tem uma perspectiva um tanto diferente:
 
“No auge da crença liberal no progresso, parecia que a maioria das ciências sociais — etnografia/antropologia, filosofia/lingüística, sociologia e diversas escolas importantes de economia — partilhava um quadro básico de pesquisa e teoria com as ciências naturais, o evolucionismo. O cerne da ciência social era o estudo da ascensão do homem de um estado primitivo até o atual e a compreensão racional desse presente. Esse processo era habitualmente considerado como um progresso da humanidade passando por vários “estágios”, embora mantendo em suas margens sobrevivência de estágios anteriores, bastante semelhantes a fósseis vivos. (..)
Por outra parte, estas ciências sociais e humanas, na medida em que podiam aspirar à argumentação rigorosa ou matemática ou a métodos experimentais das ciências naturais, também abandonaram a evolução histórica, às vezes com alívio. Foi o caso até de algumas que não podiam aspirar a nenhum dos dois, como a psicanálise, que foi descrita por um historiador sagaz como ‘uma teoria a-histórica do homem e da sociedade que podia tornar suportável (aos correligionários liberais de Freud em Viena) um mundo sem rumo e fora de controle’ (Schorske, Carl A., Fin-de Siècle Vienna, Londres, 1980)[13]
 
E mais adiante:
 
“(…) o inovador mais marcante nessa área, Sigmund Freud, criou uma disciplina, a psicanálise, que se separou do resto da psicologia e cuja pretensão a um status científico e valor terapêutico foi, então, tratada com desconfiança nos círculos científicos convencionais. Por outro lado, seu impacto em uma minoria de homens e mulheres emancipados foi rápido e considerável, inclusive em parte das ciências humanas e sociais (Weber, Sombart). Uma terminologia vagamente freudiana se incorporaria ao discurso corrente de leigos instruídos após 1918, ao menos na Alemanha e nas regiões de cultura anglo-saxônica. (…) Ao contrário dos novos sexólogos, Freud não despertou o interesse de um público especificamente preocupado com problemas sexuais, mas o de homens e mulheres cultos e suficientemente emancipados dos tabus judaico-cristãos para aceitar o que há muito imaginavam, ou seja, o enorme poder, ubiqüidade e multiformidade do impulso sexual.[14]
 
            Uma evidência não pode ser negada: para a “descoberta” do inconsciente, nenhum aparato técnico foi necessário. Se existisse algo como o inconsciente “em si”, não seria provável que passasse despercebido ao senso comum de todos os séculos antes de Freud. Daí a impropriedade da palavra “descoberta”. O “verdadeiro” motivo, porém, permanece em aberto, dependendo do ponto de vista adotados pelos historiadores da matéria.
Examinando as idéias sobre a loucura do século XIX, Foucault cita diversos conflitos teóricos. Contendas entre concepções históricas, sociológicas e relativistas, por um lado, opondo-se a análises de tipo estrutural; conflito entre teorias espiritualistas e esforços materialistas de compreensão; “conflito entre exigência de um juízo médico que media a irresponsabilidade do louco pelo grau de determinação dos mecanismos em atuação deles e a apreciação imediata do caráter insensato de seu comportamento[15]“; oposições entre a concepção  humanitária da terapêutica e o uso de tratamentos morais. Diz ele que a análise de todas essas vertentes “é o fundo constitutivo, mas historicamente móvel, que tornou possível o desenvolvimento dos conceitos, desde Esquirol e Broussais até Janet, Bleuler e Freud;[16]
 
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            Resta-nos indagar as razões da permanência do conceito de inconsciente e de sua derivação mais rudimentar, a teoria do trauma, como base do raciocínio psicológico mais comum em pleno início do século XXI. Entramos aqui mais profundamente no terreno escorregadio do exercício de poder. Quem se arvora o direito de falar sobre o proibido, sobre o oculto, “coloca-se, até certo ponto, fora do alcance do poder; desordena a lei; antecipa, por menos que seja, a liberdade futura.[17]” O trauma exerce um fascínio por sua “profundidade”, palavra quase mágica, cuja maior propriedade é tornar “superficial” qualquer idéia alternativa. Como, por definição, o “profundo” é sempre o “verdadeiro”, todo o resto é… mentira!
            Desvendar o mistério escondido “atrás” das aparências confere ao descobridor uma ilusão de poder. É de se perguntar se o indivíduo de hoje, massificado e desprovido de controle sobre sua vida, não se compraz com manifestações ilusórias de potência ao desvendar os segredos alheios. De acordo com Simmel,
 
“o segredo coloca a pessoa num estado de exceção; opera como uma atração de pura determinação social. É basicamente independente do contexto que guarda mas, claro está, é cada vez mais efetiva na medida em que sua posse exclusiva é vasta e significativa… Do segredo, que obscurece tudo quanto é profundo e significativo, nasce o erro típico segundo o qual tudo o que é misterioso é algo importante e essencial. Diante do desconhecido, o impulso natural do homem é idealizar e seu medo natural coopera para levá-lo ao mesmo objetivo: intensificar o desconhecido através da imaginação, e prestar-lhe atenção com uma ênfase que em geral não está de acordo com a realidade patente.[18]” (grifos nossos)
 
O interpretador, além de julgar-se com o poder de desvendar o segredo do outro, faz um movimento adicional. Ao reduzir o comportamento do interpretado a causas ocultas, em geral fora do controle dele, torna-o impotente. Por exemplo, se alguém comete um crime, foi por sua mãe ter sido prostituta, ou por ter sido espezinhado durante anos pelo irmão mais velho e tirânico, ou por razões desse teor. De qualquer modo, perde a responsabilidade pelo ato. Perde até mesmo o fato de ter conseguido coragem para apertar o gatilho, pois tudo foi reduzido a uma vida pregressa infeliz.
A interpretação primária pode reduzir o ato mais heróico a mero acidente psicológico. Ao esvaziar o poder alheio, o interpretador parece exercitar um jeito eficaz e covarde de sentir-se poderoso. Mas a teoria do trauma é um segredo ilusório; de tão repetido, tornou-se banal. Todos os leitores de revistas semanais de nível duvidoso julgam-se possuidores de chaves interpretativas e usam esse recurso no seu dia-a-dia. O segredo há muito se desfez, mas é confortável iludir-se, fazer de conta que sua vigência permanece. Assim confirmamo-nos mutuamente como incríveis decodificadores da mente de nossos semelhantes. Psicólogos jamais poderiam entrar nesse jogo; seu dever seria denunciá-lo.
 
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            Se forem mantidos o modelo espacial da mente e a dinâmica da causa única, usados pelos interpretadores compulsivos, pode-se chegar a coisas muito estranhas. Não é costume permitir a outras pessoas penetrarem, sem o menor cuidado, nosso espaço corporal, seja ele psicológico (incomoda-nos quem fala demasiado perto de nosso rosto) ou físico. Nosso espaço “mental”, no entanto, pode ser explorado pelos sábios detentores de estranhas verdades psicológicas, e com a nossa permissão! Sob um certo ponto de vista, permitimos o psico-estupro, sem nos darmos conta da violência aí contida. Desconheço a menção desta classe de abuso nos escritos sobre os comportamentos “politicamente corretos”, tão em voga nos Estados Unidos.
 
Não é de se admirar a lamentável difusão dessas práticas interpretativas. Além dos motivos já citados, pode-se pensar em outro fator determinante. No darwinismo social em voga espera-se dos indivíduos uma percepção do mundo rápida e eficiente, inteligência prática, flexibilidade, ação imediata e de resultados. Nada de parar, refletir, esperar o aparecimento das diversas configurações possíveis do fenômeno observado, encantar-se com a diversidade de aspectos oferecidos pela realidade. Estas são “coisas de filósofos” ou de “artistas”; o tempo urge, é preciso ser esperto, senão o videoclip acaba antes de sintonizarmos o remoto controle.[19]
            Numa conferência sobre a interpretação da obra de arte, Luis Cláudio Figueiredo, um psicanalista de renome, resgata a possibilidade de ser ver “outra coisa”, um além das aparência, mas agora em direção rica e diversa:
 
“Para que a fala interpretativa seja efetivamente da ordem de uma resposta é preciso que ela se dê como um encontro no “meio do caminho”, no horizonte constituído pelo movimento recíproco em que se abre um campo comum em·que um e outro, intérprete e obra interpretada, já não são os mesmos de antes: cada um deixou-se fazer pelo outro, acolhendo em si a alteridade do outro e permitindo que despertem em si as próprias alteridades ressoantes; o intérprete deixa-se fazer pela obra e ao responder a ela, interpreta, realizando um sentido da obra que até então permanecia em estado virtual e desconhecido.[20]
 
            A diferença salta aos olhos. Cada um, intérprete e interpretado, modifica-se; não há, aqui, um exercício de poder da maneira como o estivemos considerando. Mais adiante, na mesma ocasião, Figueiredo encerra seu discurso com as seguintes palavras:
 
“Creio que esta concepção do interpretar como algo que emerge e é solicitado desde uma escuta do virtual, do não-familiar e do surpreendente, propiciado na experiência do intérprete por uma dada mensagem, e como algo cuja função primordial não é a de esclarecer a qualquer preço, decifrando a mensagem, mas de levá-la ao seu destino tal como ela pode ser ouvida em toda a sua estranheza original, talvez possa se mostrar pertinente para todos os casos referidos no início destas notas. De qualquer forma, ela me parece compatível com o que se passa na clínica psicanalítica.[21]
 
Num artigo intitulado “Educação para a Democracia”, Maria Vitória Benevides destaca três dimensões essenciais para a consecução do objetivo nomeado no título. São eles a formação intelectual e a informação, a educação moral e a educação do comportamento. A seguir comenta:
 
“À luz da interdependência desses três elementos para a formação democrática, cabe assinalar, aqui, a grave carência que tem representado, nos últimos tempos, o rebaixamento da educação literária comparativamente ao ensino das ciências exatas ou biológicas. Antonio Cândido salientou a esse respeito, com muita propriedade, o papel pedagógico da Literatura no processo de humanização, isto é, o processo ‘que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a sociedade, o semelhante.’ (1989, p. 117)[22]
 
Ficam, para reflexão, estas observações dos mestres. O psicólogo, seja psicanalista, existencialista ou pertencente a qualquer outra das tendências que grassam em nossa profissão, sendo leitor atento de Dostoiévski, Thomas Mann, Saramago, Garcia Marques ou Guimarães Rosa, jamais interpretará seu semelhante de formas tão bisonhas e, sabemos agora, tão antidemocráticas como as descritas neste texto. O mesmo vale para o indivíduo informado que não exerce atividades “psi”.
 
Tentei colocar em evidência uma espécie de vício que assola o campo da Psicologia, a servir de pretexto para invasões indevidas de uns indivíduos sobre os outros. Quando alguém tenta “explicar” as doenças, palavras ou atos alheios sob crivos tão pobres e gratuitos está, mesmo sem o saber, fazendo uso indevido de um pseudo-poder; é possível dizer, mesmo, que está submetido a um jugo histórico que desconhece. Alienado, comete uma violência contra seu semelhante e contra o saber psicológico. Tal sanha interpretativa deve ser evitada e denunciada a cada uma de suas manifestações.
 
 
Referências bibliográficas
 
 
BENEVIDES, Maria Vitória de Mesquita, Educação para a Democracia (versão resumida de conferência proferida no âmbito do concurso para Professor Titular em Sociologia da Educação na FEUSP, 1996). Retirado da Internet, URL  http://www.hottopos.com/notand2/educacao_para_a_democracia.htm em 21/04/2002.
DOMENÈCH, Miguel, TIRADO, Francisco e GÓMEZ, Lucia, “A dobra: psicologia e subjetivação”. In: Tomaz Tadeu da Silva (org), Nunca Fomos Humanos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2001.
FIGUEIREDO, Luis Cláudio, “A Fabricação do Estranho: Notas sobre uma Hermenêutica ‘Negativa’, Boletim de Novidades Pulsional – Centro de Psicanálise. São Paulo, Ano VII, nº 57, 1994
FOUCAULT, M, História da Loucura. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2000
FOUCAULT, M, História da Sexualidade, Vol. I: “A Vontade de Saber”. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 2001.
GUIRADO, Marlene, Psicanálise e análise do discurso: matrizes institucionais do sujeito psíquico. São Paulo: Summus Editorial, 1995.
HOBSBAWN, Eric, A Era dos Impérios (1875-1914). Editora Paz e Terra, 3ª edição, 1992
LOFTUS. Elizabeth, ” Remembering Dangerously”, Skeptical Inquirer, March, 1995, Vol. 19  No. 2. Texto retirado da Internet, URL http://weber.u.washington.edu/~eloftus/Articles/witchhunt.html, em 12/03/1999.
PINKER, Steven, Como a Mente Funciona, São Paulo: Companhia das Letras, 1988
ROLNIK, Suely, Cartografia Sentimental – transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade, 1990.
ECO, Umberto, Interpretação e Superinterpretação. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1993.
VAN DEN BERG, J. H., Psicologia Profunda. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1970.
 
 
Artigo publicado na Revista “Psicoterapia Breve” — Edição e Propriedade da Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Breves, Lisboa, volume VII, novembro de 2002, pp.5-15.
 

[1] Miguel DOMENÈCH,  Francisco TIRADO e  Lucia GÓMEZ,  2001,  p.  125.
 
[2] D. R. STEELE, 1994.  Partial recall.  In: .LOFTUS, E., 1995,  pp. 37-47
[3] FOUCAULT, 2001,  p.  16.
[4] PINKER, 1988, pp.  50-51.
[5] PINKER, op. cit, p. 51
[6] LOFTUS. 1995,  p.  20.
[7] LOFTUS, op. cit..
[8] LOFTUS, op. cit.
[9] LOFTUS,op. cit.
[10] GUIRADO, 1995.
[11] ROLNIK, 1990.
[12] VAN DEN BERG., 1970,  pp.  267-268.
[13] HOBSBAWN, 1992, pp.  372-373.
[14] HOBSBAWN, op. cit., p.375.
[15] FOUCAULT,  2000, p. 514-515.
[16] Ibid., p.515.
[17] FOUCAULT, 2001, p. 12.
[18] Georg SIMMEL,  The Secret and the secret society.  (The Sociology of Georg Simmel, Nova York, Free Press, 1950).  In: ECO, 1993.  pp. 332-3)
[19] A expressão foi retirada de uma letra de Adriana Calcanhoto.
[20] FIGUEIREDO, 1994,  p. 21
[21] Ibid,  p. 22
[22] BENEVIDES, 1996. A citação de Antonio Cândido está em Direitos Humanos e Literatura, in Fester, A. C. R. (org),  Direitos Humanos E…,  Cjp/Ed. Brasiliense,  1989.