Espera

Luiz A. G. Cancello
 
Pelos barulhos te anuncias: 
     o ronco do motor 
     o ranger da porta 
     um pigarro maroto 
     o tlin-tlin do chaveiro 
     aquele “oi!” 
     o passo inconfundível estalando do chão 
     desestreitando meu peito 
     desesperado de espera. 
tudo isso falta, hoje 
a cada ruído vindo da rua 
     sobressaltos perpassam 
     meu corpo em prontidão 
um respirar descompassado 
     fantasia teu sorriso 
     desenhando-se no umbral da porta, 
     irrompendo minha alma adentro. 
     vou à janela, 
     tarde cinzenta umedecendo 
     a indagação dos meus olhos inquietos. 
     todo passante é ninguém. 
escoa-se o tempo, 
dissolve-se a rua em silêncio. 
na sala, tua ausência viva 
     esmaga minha presença morta.