Episódio XXI

— Amor?
— Oi.
— Se eu morrer você vai casar com outra pessoa?
— Cada coisa que passa pela sua cabeça… como é que eu vou saber?
— Você deve saber. Acho que todo mundo pensa nisso.
— Eu nunca pensei nisso.
— Então pensa agora. Casa ou não casa?
— A gente é muito jovem, talvez eu case. Vou sentir muito se você morrer, te amo, mas o tempo cura as feridas.
— Como é gostoso ouvir que você me ama! Mas com quem você casaria?
— Amorzinho, a conversa tá ficando perigosa. Não entra nessa.
— Por quê! Tem alguém já na mira?
— Que besteira! Não tenho ninguém. Já disse que nunca pensei nisso.
— Mas quando eu perguntei você deve ter pensado.
— Caracas, quer parar? Me deixa em paz.
— Opa, que nervosismo! Não foge da raia. Ficou com medo de falar?
— Falar o quê? Papo nada a ver, esse!
— Falar em quem você está pensando.
— Tá querendo confusão? Então vamos lá. Em quem você acha que eu estou pensando?
— Ah, não vou arriscar. Não sou besta.
— E por que eu tenho de contar, se você não topa a brincadeira até o fim?
— Contar? Então tem alguma coisa pra contar? Quem é?
— Vamos inverter as coisas. E você, com quem casaria, se eu morresse?
— Perguntei primeiro. Não vale fazer isso.
— Quem escreveu as regras desse jogo idiota?
— Você está fazendo tudo pra não responder a minha pergunta.
— Ok. Vou responder. Não casaria com ninguém, dedicaria minha vida à religião e à caridade.
— Boa saída. O problema é que não acredito.
— Você não me conhece.
— Conheço, sim. E posso conhecer muito mais.
— Como?
— Se você me responder com quem casaria se eu morresse.
— Vamos parar com isso? Essa brincadeira vai acabar mal.
— Não disfarça. Diz aí. Quem é?
— Não é possível, você está precisando se tratar.
— Tratar de quê?