Episódio XLIX

— Você não disse que a casa do seu amigo era aqui nesta rua?
— Achei que era, mas o lugar não é bem esse.
— Quantas vezes você já foi na casa dele?
— Eu nunca fui lá.
— Então como sabia, ou achava que sabia, que era nessa região?
— A prima dele me disse pra virar na esquina de uma padaria grande, depois de umas cinco quadras na avenida. Aí era só procurar um predinho pequeno, azul-escuro, com janelas de alumínio. A casa dele fica em frente.
— Mas não tem um nome de rua e um número? Eu vou ficar dando voltas de carro até trombar com a tal padaria ou a casa azul?
—Tenha um pouco de paciência, meu amor. Nem tudo é como a gente quer.
— Arranja um nome de rua e um número. Ponho no GPS e chego lá em um minuto. Liga pra prima dele.
— Não sei como você se achava na cidade antes do GPS.
— Eu tinha um guia, um mapa e uma bússola.
— Pra que a bússola?
— Para orientar o mapa para o Norte.
— Acho que só você tem essas ideias. Eu nem sei onde é o Norte.
— Quando você tem um mapa, o Norte é na parte de cima da folha. A menos que tenha uma Rosa dos Ventos indicando outra direção.
— Você se preocupa com cada coisa! Eu vou mais pela intuição que pela razão. Não sou fã da tecnologia.
— Tá. Agora liga pra prima dele, por favor.
— Esqueci de por créditos no celular. Dá pra você ligar?
— Mas eu nem conheço a mulher! Eu ligo e você fala. Qual é o número?
— Ah, não sei, está no meu celular. Espera. Vou te mandar por WhatsApp.
— Se você está sem créditos o WhatsApp não vai funcionar. Me diz o número.
— É mesmo.
— Então fala o número.
— Estou pensando outra coisa.
— O que é, pelo amor de Deus?
— Lembra que a gente passou por um motel?
— Nem vi.
— Vamos pra lá? Depois dou uma desculpa pro meu amigo.
— Enfim uma boa ideia! Onde é?
— Volta por onde a gente veio.
— Mas você lembra onde é?
— Mais ou menos. Vai indo que eu descubro. Umas quatro quadras pra trás. Acho que tem uma pracinha.
— Não é possível, não é possível!
— Ué, por que você tá assim?

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