Episódio LXXXIX

— Preciso te dizer uma coisa.
— Ih, quando você começa assim…
— Quando eu começo assim, o que acontece?
— Vem bucha.
— Cacete, que prevenção!
— Te manjo faz tempo.
— Não boto fé que você me conheça tanto assim.
— Fala de uma vez.
— Só se você se acalmar.
— Eu sou a calma em pessoa, não tá vendo?
— Mas já te vi perder o controle.
— É muito raro. Você é que não me conhece bem.
— E como eu vou saber se você não vai estressar hoje?
— Fala aí. Não deve ser tão grave.
— Depende do ponto de vista.
— Sempre depende.
— E do momento.
— Para com enrolação. Você tem mesmo alguma coisa pra me dizer?
— Claro que tenho. Mas estou com medo.
— Medo de mim?!
— É.
— Incrível. Não há razão nenhuma pra você ter medo de mim.
— Você é que pensa.
— Mas como é que eu te intimido?
— Sei lá. É um jeito.
— Mas o quê? O tom de voz, o olhar, algum gesto em especial?
— Difícil dizer assim, de repente. Você emana autoridade.
— Senhor, é uma emanação! Eu emano! Estou emanando, agora?
— Até este momento não estava muito. Agora está.
— É impossível não emanar, a partir do momento em que alguém diz que você emana. Agora ferrou.
— Você não está levando isso a sério.
— Claro que não. Nunca ouvi tamanha bobagem.
— Olha como você me desqualifica. Como é que eu posso falar as coisas com liberdade?
— Presta atenção, tá tudo bem. Estou de ótimo humor. Emanando boas energias. O mundo é bom, a vida é bela.
— É, parece. Mas eu gostaria de ter certeza.
— Mas como vai ter certeza, se você fica achando um monte de besteiras?
— Calma, por favor. Você podia ao menos dar uma dica. Um sinal.
— Mas que sinal? Que sinal?
— Não sei. Faz uma tentativa. Tem de ter um jeito.
— Não tem jeito nenhum, quer saber? Para de frescura e fala logo essa merda, caralho!
— Assim não dá. Assim não dá.

 

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