Cena

para o meu filho Theo

A idade emoldurada
na casa da esquina;
o velho na janela sorri para nós.
Parece eterno, ali,
e o bom-dia que trocamos
ressoa pelos milênios.
Passo com meu filho no colo;
pura potencialidade
encantando o ato quase-consumado.
“Destino de pai!” brinco eu
“Também já carregaram a gente!” diz ele.
(A palavra do velho mágico
abre uma fenda no tempo.)
Prossigo o passeio por outras veredas.
A reta se faz círculo.
O presente, nos meus braços,
ronda passado e futuro.
O menino balbucia.
Sei que sua voz estará sempre comigo.

Luiz A. G. Cancello
ca 1981