Apreciação de Luiz A G Cancello
A primeira palavra que me ocorre para falar desse romance é “delicado”.
O narrador é bastante original. Pode ser o próprio autor, que narra o jeito com que vai concebendo a história; ou um ser incorpóreo que segue Gastón, o personagem principal, capaz de se imiscuir nos seus pensamentos e ter algum controle da narrativa. E nesse passo convida o leitor a passear junto. Ao comentar a demora de Max, fechado em seu estabelecimento comercial, para continuar uma conversa telefônica, escreve:
Max também demora a responder. Deve ter suas razões, mas não podemos saber quais são, porque não nos foi dado o acesso a ele, a seus pensamentos e motivações. Se acompanhássemos Max em vez de Gastón, estaríamos contando outra história, totalmente diversa, com menos acontecimentos, menos personagens, e a esta altura já estaríamos sofrendo um ataque de claustrofobia.
É uma bela história da amizade entre Gastón e Max. Como podemos ver na citação, tudo se passa na perspectiva de Gastón, que tem o privilégio de ser seguido intimamente pelo narrador (e pelo leitor). Outra amizade, esta de Gastón por Gato, seu cachorro, é um dos fios condutores do texto.
É também uma história de mistério, pois Pol, filho de Max, trabalha num projeto secreto e acaba por envolver os dois amigos na trama.
Podemos dizer também que é uma história que aborda o choque de culturas e a xenofobia, pois perpassa pelo enredo a imigração de povos orientais para um país latino, especialmente para o bairro de uma cidade, ocupando territórios, desencadeando estranhamentos de parte a parte.
Como se tudo isso não bastasse, temos o futebol, presente no cotidiano da cidade, que é o berço do mais importante dos jogadores.
Ah, o enredo flerta com um romance de amor.
Com todos esses ingredientes, Juan Pablo Villalobos faz um livro delicioso, leve e profundo, sério e bem-humorado, deixando ao fim um sorriso encantado no leitor.