Doris tem 96 anos. Mora sozinha, tem cuidadoras que a ajudam nos cuidados básicos do dia-a-dia. A única pessoa da família com quem tem contato, a única que lhe resta, é sua sobrinha-neta Jenny, que mora nos Estados Unidos. Elas se comunicam por Skype, uma vez por semana.
A velha senhora, quando criança, ganhou de seu pai uma caderneta de endereços vermelha, que organiza o livro. Os capítulos têm os nomes dos amigos e conhecidos anotados na caderneta, pessoas que foram importantes na vida de Doris, a maioria já morta.
O livro tem um narrador onisciente, que conta parte da história, entremeado com as memórias de Doris, escritas por ela em primeira pessoa. Da pobreza inicial na Suécia, agravada pelo falecimento precoce do pai, a moça é obrigada a procurar o próprio sustento, ainda adolescente. Passa a ser emprega da numa casa de ricos, até que sua beleza chama a atenção de um agenciador de modelos. A partir daí, por um breve tempo, passa a desfrutar uma vida de glamour. Nessa época descobre o amor. A chegada da Segunda Guerra subverte o enredo, afastando-a do trabalho e do amado, a quem sempre estará ligada. O conflito mundial vai empurrar Doris para muitas viagens e dificuldades.
Na melhor época de sua vida faz um amigo, um pintor, amizade que percorrerá toda a história.
O livro tece, de maneira muito hábil, três níveis de relacionamento – amoroso, de amizade e familiar, todos afetados pelas circunstâncias terríveis da guerra. É notável como todos esses tipos de contato humano se cruzam na narrativa, estando presentes a cada momento da leitura.
O nível presente da narrativa se passa no tempo de Doris idosa, lutando com as dificuldades da idade, inicialmente em sua casa e depois no hospital. Os capítulos são entremeados com recordações da velha senhora, que depois sabemos que foram escritos por ela, contando a vida para sua sobrinha-neta, para que sua memória não se perca.
Se faltaram algumas peças na história, o todo é recuperado por Jenny, ao mexer e organizar os objetos e a caderneta de endereços de sua tia-avó.
É uma história dolorosa e comovente, entremeando com habilidade uma trajetória pessoal com acontecimentos decisivos do século XX. Vale a leitura.